Sempre fui uma pessoa muito crítica e
reflexiva. Preocupada com as coisas que estavam erradas no mundo analisava tudo
profundamente e tirava minhas conclusões. Não sei como me tornei assim, mas o
fato é que sempre questionava as coisas e refletia.
Apesar de achar minhas idéias
pertinentes, percebia uma resistência das pessoas em aceitá-las. Extremamente
idealista comecei a ter ódio da vida por não me dar o que eu queria. E todas as
vezes que encontrava uma porta fechada, uma dificuldade, amaldiçoava a vida e
dizia o quanto a odiava por ser ingrata e injusta. Comecei a revelar um
comportamento autodestrutivo.
Dizem que fui uma criança muito doce
e na adolescência era uma pessoa alegre e cheia de vida. Tinha um milhão de
sonhos, muito inconstante e sonhadora. Tinha amizades duradouras com as quais
ria muito e saía. Gostava de ouvir música, dançar e conversar... mas com o tempo a pessoa que queria viver e
interagir já não existia mais. Estava colecionando ressentimentos, amarguras e
frustrações. De vez em quando acordava com o pé esquerdo e coitado do primeiro ser
humano bondoso que cruzasse o meu caminho.
A verdade é que o meu ego era maior
que eu mesma e me achava importante demais para ser incomodada quando não
estivesse a fim. Como as pessoas poderiam saber se eu estava bem ou não? E o
pior é que as pessoas pareciam não perceber quando estava deprimida e insistiam
em falar algum assunto qualquer que eu na minha arrogância fazia pouco caso,
ou, reagia com algum comentário seco e cortante. Isso porque de alguma forma me
sentia atacada, e, nem percebia que magoava as pessoas.
Era muito ingênua e não percebia que
alguns guardam rancores e não esquecem uma ofensa. Preocupada com algum sonho
tolo, algum objetivo ou comigo mesma, não enxergava muito além do meu próprio
umbigo. Tinha a impetuosidade estúpida da juventude, pensava em salvar o mundo e
fazer coisas grandes. Muito intolerante falava tudo o que pensava e esquecia
que não era perfeita.
Nunca fazia nada para prejudicar por
isso não entendia porque algumas pessoas tinham tanto ódio de mim. De vez em quando tinha umas
explosões de raiva quase sempre por bobeira. Não conseguia me controlar e
pirava por qualquer coisinha. Agia muito por impulso, só pra me arrepender
amargurada e desproporcionadamente, pois se tem uma coisa eu sabia fazer muito
bem, era um drama. Sentia-me muito mal, porém não sabia como consertar o erro e
acabava piorando tudo. Comecei a pensar que não merecia ser amada por causa da
minha ruindade.
As pessoas mais próximas e mais
amadas, logo começaram a usar meu ponto fraco contra mim. A culpa era sempre
minha.
Estava concentrada em tudo que
existia de ruim na vida e não percebia que estava atraindo mais infelicidade.
Meu senso de “justiça” me fazia ter atitudes radicais e incoerentes, vivia
nadando contra a corrente. Eu amava as pessoas, mas não sabia como lidar com
elas, nem sabia como lidar comigo. Queria viver perto delas, mas sofria por me
ver sempre só, até que percebi que era o meu jeito que afastava as pessoas.
A verdade é que meu coração estava
cheio de amargura e ressentimento com a vida e com o mundo. É difícil aceitar
que pouquíssimas coisas são perfeitas e que raras são as vezes que temos o que
realmente queremos. A verdade é que eu amava a vida e amava as pessoas, mas não
suportava ser contrariada. Eu era extremamente mimada. Achava que as minhas idéias
eram sempre melhores e fazia pouco caso das pessoas mais simples por não
partilharem meus ideais de esquerda. Abrigava em meu íntimo um espírito
revolucionário. (assim eu pensava).
Um dia tinha uma apresentação na escola
sobre a pátria e nós professoras alfabetizadoras tinhamos que ensaiar alguma
apresentação com os alunos.
Olha a comédia!
Eu dava aula para o 1º ano e era revoltada por
natureza com tudo e com todos. Rebelde sem causa e idealista.
Na época, passava uma propaganda na
globo em que estudantes cantavam a música "Pra não dizer que não falei das
flores"_ Geraldo Vandré. Quando via aquilo ficava arrepiada. Os
estudantes, homens e mulheres, adultos e crianças caminhavam cantando a canção:
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
“Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...”
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...”
Haviam pessoas de todas as raças. Era
muito lindo! Então resolvi ensaiar as crianças pra cantar esta canção. Imagina
crianças de 06 a 07 anos cantando uma melodia pesada como essa. Difícil de
cantar! Não preciso nem dizer o fracasso que foi.
Hoje eu me acabo de rir só de
lembrar mas foi trágico. Fiquei muito deprimida.
Nesse dia aprendi uma grande lição com minha amiga
Ilma.
Começamos trabalhar na Escola Paulo Freire no mesmo
ano e enfrentamos juntas grandes desafios. Compartilhávamos nossas alegrias e
nossas angústias com relação a educação, entre outros inúmeros assuntos.
Ela me disse que ia ensaiar a música “Eu te amo meu
Brasil” e pediu minha opinião. Infelizmente, eu não gostei da música, achei
meio chata, sem graça, sei lá... “só falava bem de um país que eu tinha raiva e
um certo desprezo”. Enfim...
Claro que a Ilma mineira que é... não mudou de
idéia. E olha a diferença: ela pediu uma opinião. Coisa que eu não fiz. Sempre
fui auto-suficiente (outra lição que aprendi com ela). Resultado:
Lá estávamos nós no pátio com a criançada... nessas
horas eu já estava com a bola murcha depois do fiasco que só foi amenizado
porque criança pequena não precisa fazer nada direito pra ficar engraçadinha.
Fora isso, teria sido um desastre...
Então... lá estávamos nós... chega a Ilma com sua
turminha: ajeita-os e solta o som:
“As praias do Brasil ensolaradas
O chão onde o país se elevou
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui tem muito mais
amor
O céu do meu Brasil tem mais estrelas
O sol do meu país mais esplendor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras vou plantar
amor
Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
Meu coração é verde, amarelo, branco,
azul anil
Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
Ninguém segura a juventude do Brasil”
Aquela música contagiante, as crianças cantando
juntas, animadas, alegres... e para completar ela passa toda charmosa com
aquele sorriso mais lindo entregando bandeirinhas coloridas de verde-amarelo
para as crianças... Foi um espetáculo de cor, som e movimento. Fiquei
embasbacada!!
Foi depois disso que percebi que o que as pessoas
precisam é de felicidade!!
E desde esse dia passei a me soltar mais... a
curtir mais... a viver mais...
E a cada dia aprendo mais o exercício de ser feliz
e não deixar que nada tire a minha alegria de viver, de amar e de buscar a
realização de todos os meus sonhos.
Esta foi apenas uma das inúmeras coisas que aprendi
com esta pessoa incrível que é a Ilma Teixeira Bastos Leite.
Ela é uma pessoa muito especial! Tem a fala tão
doce que quando escuto sinto como se uma mão afagasse o meu coração. Quantos
conselhos ela me deu. Quantas bobeiras ela escutou... quantos dramas da minha
vida ela participou, se preocupou e me ajudou a perceber que não havia motivos
pra chorar tanto, pra se importar tanto.
Toda a cor, toda a vida e toda a beleza que tem no
que eu faço hoje deve-se a convivência com essa minha grande amiga que me
ensinou que faltava uma coisa muito importante em mim chamada amor.
Amor ao próximo!
“Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o
prato que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profecia
e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover
montanhas, se não tiver amor, nada serei.
Ainda que eu dê aos pobres tudo que
possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso
me valerá.” I coríntios13:1-3
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