quarta-feira, 22 de setembro de 2010

música, voz e interpretação

É impossível explicar a magnitude do universo musical devido à maneira como nos atinge e nos transforma. A música é voluptuosa, mexe com toda a gama de emoções, provocando reações dramáticas. E o seu significado, como toda boa arte, traz em sua beleza, genes de profundas tristezas.

Assim como a pintura, a poesia e o teatro, a música é uma forma concreta que expressa um conteúdo abstrato, formando em nós todo um mundo de ressonâncias psíquicas indefiníveis, de modo que muitas vezes, a melodia se torna a própria letra. Efeito curioso este, que pude experimentar ouvindo o tango do filme perfume de mulher.

Do mesmo modo o canto pode se tornar música, mas vai depender da intimidade do intérprete com a técnica, que vai desde o domínio da mesma, até a expressão da verdade emocional cênica, já que do contrário a palavra-mentira seria revelado pelo complexo corporal.

Quando um cantor consegue projetar a sua voz, destilando palavras que alcancem um espírito receptor, ocorre a catarse. A música remete o indivíduo para dentro de si mesmo onde encontra suas vivências mais intensas e profundas.

Um músico jamais encontrará este poder apoiado apenas na técnica, pois a música é subjetiva. E aquele que apela apenas para as emoções, em lugar de melodia, cria um melodrama. Shakespeare já dizia que o mais puro mel, é repugnante por sua delícia.

Uma boa voz também não é garantia de sucesso, mas aliada à técnica, sensibilidade e dedicação, encontra a forma ideal quando a sua expressão desperta na imaginação do receptor uma realidade imaterial, que só existe para ele mesmo.

Quantos já não se frustraram tentando transmitir a receptores insensíveis o que sentem ao ouvir determinada canção?

Música é paixão! Um misto de dor e prazer, uma explosão que encontra na dança um meio de extravasar a energia produzida. Como a experiência religiosa que fez o Rei Davi dançar, a música nos enleva, nos impulsiona a coexistir num universo paralelo.

É preciso arriscar, pois não há música sem entrega. Um cantor temeroso, nunca vai experimentar o sentimento de liberdade daquele que canta com todo o seu ser. Este ato de entrega esta relacionado à imagem corporal, por isso, cantar é muito mais do que produzir som, cantar é auto-afirmação.


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